Entendendo a Diferença entre Modelo Entidade-Relacionamento (MER) e Diagrama Entidade-Relacionamento (DER)

Entendendo a Diferença entre Modelo Entidade-Relacionamento (MER) e Diagrama Entidade-Relacionamento (DER)

A modelagem de dados é uma etapa crucial no desenvolvimento de sistemas de informação, e dois conceitos fundamentais nesse processo são o MER (Modelo Entidade-Relacionamento) e o DER (Diagrama Entidade-Relacionamento). Embora esses termos sejam frequentemente usados de forma intercambiável, eles representam etapas distintas na modelagem de dados. Este artigo tem como objetivo esclarecer as diferenças entre MER e DER, destacando suas características, aplicações e relações, com base em referências técnicas e bibliográficas.


1. Introdução

A modelagem de dados é essencial para garantir a organização, integridade e eficiência dos bancos de dados. O MER e o DER são ferramentas amplamente utilizadas nesse processo, mas suas funções e níveis de abstração são diferentes. Enquanto o MER é um modelo conceitual que define a estrutura dos dados de forma abstrata, o DER é uma representação gráfica que detalha e visualiza esse modelo.

Este artigo explora as características de cada um, sua relação e a importância de ambos no ciclo de vida do desenvolvimento de bancos de dados.


2. MER: O Modelo Conceitual

O MER (Modelo Entidade-Relacionamento) foi proposto por Peter Chen em 1976 como uma abordagem para modelar dados de forma conceitual (CHEN, 1976). Ele é utilizado para descrever os componentes básicos de um banco de dados, incluindo:

  • Entidades: Objetos ou conceitos do mundo real que possuem existência independente (ex: Cliente, Produto).
  • Atributos: Propriedades ou características das entidades (ex: Nome do Cliente, Preço do Produto).
  • Relacionamentos: Associações entre entidades (ex: Um Cliente faz um Pedido).
  • Cardinalidades: Quantidade de instâncias de uma entidade que podem se relacionar com outra (ex: Um Cliente pode fazer vários Pedidos).

O MER é abstrato e não necessariamente visual, podendo ser descrito textualmente, mentalmente ou até mesmo através de esboços gráficos informais. Ele serve como uma base teórica para a modelagem de dados, sem se preocupar com detalhes de implementação. No entanto, quando essa representação gráfica começa a utilizar notações específicas e padronizadas (como a notação de Peter Chen) de um Diagrama Entidade-Relacionamento, ela deixa de ser apenas uma representação informal do MER e passa a ser um DER. O MER é o modelo conceitual abstrato que pode ser representado graficamente por meio do DER, mas também pode ser descrito textualmente ou usado como base para discussões conceituais. Em resumo, o MER é o modelo conceitual, e o DER é a representação gráfica desse modelo.

Exemplo de descrição textual de um MER:

"Entidade Cliente: possui atributos nome, CPF e endereço. Entidade Pedido: possui atributos número, data e valor. Relacionamento: Cliente 'faz' Pedido, com cardinalidade 1:N (um cliente pode fazer muitos pedidos)."
De acordo com Date (2003), o MER é uma abordagem conceitual que permite descrever a estrutura de um banco de dados de forma independente de qualquer sistema de gerenciamento de banco de dados (SGBD).

3. DER: A Representação Gráfica

O DER (Diagrama Entidade-Relacionamento) é a materialização gráfica do MER. Ele utiliza notações visuais para representar entidades, atributos, relacionamentos e cardinalidades. Existem diferentes notações para DER, como a notação de Peter Chen (original), a notação de James Martin (também conhecida como "pé-de-galinha"), entre outras. Embora os símbolos variem, todas representam os mesmos conceitos fundamentais. As notações mais comuns incluem:

  • Entidades: Representadas por retângulos.
  • Atributos: Representados por elipses ou listas dentro das entidades.
  • Relacionamentos: Representados por losangos ou linhas conectando as entidades.
  • Cardinalidades: Indicadas por símbolos como (1, N) ou (0, M) nas linhas de relacionamento.

O DER é mais detalhado do que o MER, pois incorpora aspectos técnicos como chaves primárias, chaves estrangeiras e tipos de dados. Ele serve como uma ponte entre o modelo conceitual e o modelo lógico. A implementação física do banco de dados é uma etapa posterior, que parte do modelo lógico.

Segundo Elmasri e Navathe (2016), o DER é uma ferramenta essencial para comunicar a estrutura do banco de dados entre desenvolvedores, analistas e stakeholders, pois oferece uma visão clara e organizada dos dados.

4. Relação entre MER e DER

A relação entre MER e DER pode ser resumida da seguinte forma:

  • MER: Define o conceito (o que será modelado).
  • DER: Representa o conceito de forma visual e adiciona detalhes técnicos.

O DER não é apenas uma "tradução gráfica" do MER. Ele também refina o modelo, adicionando detalhes técnicos e lógicos que não estão presentes no MER conceitual.

Uma analogia útil é pensar no MER como o roteiro de um filme (a história, os personagens, os eventos) e no DER como o storyboard (a representação visual do roteiro, com cenas, ângulos e detalhes técnicos).

Silberschatz, Korth e Sudarshan (2011) destacam que o MER é a base conceitual, enquanto o DER é a aplicação prática e visual dessa base.

5. Evolução do DER e Suas Extensões

O Diagrama Entidade-Relacionamento (DER), desde sua concepção original por Peter Chen em 1976, não permaneceu estático. A modelagem de dados, como disciplina, evoluiu, e o DER acompanhou essa evolução, dando origem a variações, extensões e apropriações por ferramentas de software. É importante compreender essa natureza evolutiva para evitar confusões sobre o escopo do DER. Podemos distinguir, de forma didática, entre o DER "puro" (ou clássico) e o DER "estendido":

  • DER "Puro" (Clássico):

Esta é a forma mais fundamental do DER, focada primordialmente no modelo conceitual. Ele representa entidades, atributos, relacionamentos e suas cardinalidades. É a visão mais comum em livros didáticos e materiais introdutórios sobre modelagem de dados, servindo como uma ferramenta poderosa para comunicar a estrutura básica de um sistema de informação de forma independente de tecnologias específicas.

Der "Puro"
Der "Puro"
  • DER "Estendido" (e o Papel das Ferramentas CASE): A necessidade de detalhar modelos conceituais e facilitar a transição para as etapas de projeto lógico e físico levou ao surgimento de extensões do DER. Muitas ferramentas CASE (Computer-Aided Software Engineering) e metodologias de modelagem incorporam elementos do modelo lógico diretamente no diagrama. Essas extensões tipicamente incluem:Além disso, algumas ferramentas CASE vão além e permitem alguma representação de aspectos do modelo físico, como a seleção do Sistema Gerenciador de Banco de Dados (SGBD) alvo, a definição de índices (geralmente de forma limitada) e, em casos mais raros, configurações básicas de particionamento. É crucial, no entanto, ressaltar que essa representação do físico dentro do que se chama "DER" é altamente dependente da ferramenta CASE específica e não constitui um padrão universalmente aceito na disciplina de modelagem de dados. O modelo físico, com sua complexidade e detalhes de implementação, geralmente requer ferramentas e notações próprias.
DER "Estendido"
    • Especificação de Tipos de Dados: A definição precisa dos tipos de dados para cada atributo (por exemplo, INT para inteiros, VARCHAR para textos, DATE para datas).
    • Representação Explícita de Chaves: A identificação clara das chaves primárias e estrangeiras, que são cruciais para a integridade referencial em bancos de dados relacionais.
    • Modelagem de Tabelas de Ligação: A inclusão de tabelas associativas (ou tabelas de junção) para representar relacionamentos muitos-para-muitos.

Essa distinção entre o DER "puro" e o "estendido" ajuda a esclarecer por que, em diferentes contextos, o DER pode parecer abranger mais ou menos elementos dos modelos lógico e físico. A chave é entender que o núcleo do DER permanece focado no modelo conceitual, e as extensões são adições, muitas vezes proprietárias, que visam facilitar o ciclo de vida do desenvolvimento de software.


6. O Escopo do DER nas Etapas da Modelagem

A modelagem de dados geralmente envolve várias etapas, começando com o modelo conceitual (MER), passando pelo modelo lógico e culminando no modelo físico.

  • Modelo Conceitual (MER): Define as entidades, atributos, relacionamentos e cardinalidades de forma abstrata, sem detalhes de implementação.
  • Modelo Lógico: Traduz o modelo conceitual em uma estrutura lógica, geralmente definindo tabelas, colunas, tipos de dados e chaves (primárias e estrangeiras) em um SGBD específico (mas ainda sem detalhes de armazenamento físico). Além disso, o modelo lógico detalha o tratamento de relacionamentos muitos-para-muitos (m:n), frequentemente através da criação de tabelas associativas, e aplica as regras de normalização para garantir a integridade e evitar redundância de dados.
  • Modelo Físico: Especifica como os dados serão fisicamente armazenados no sistema de armazenamento (disco, memória, etc.), incluindo detalhes como estruturas de arquivos, índices, métodos de acesso e configurações do SGBD.

O DER (Diagrama Entidade-Relacionamento), em sua forma e uso mais comuns, abrange principalmente o modelo conceitual, representando entidades, atributos, relacionamentos e cardinalidades. Ele também pode ser adaptado e estendido, especialmente em ferramentas CASE, para representar parcialmente o modelo lógico, através da definição de chaves primárias, estrangeiras e tipos de dados. Entretanto, o DER, mesmo em suas formas estendidas, não é uma ferramenta completa e adequada para representar o modelo físico, que lida com detalhes de armazenamento, índices, particionamento e configurações específicas do SGBD e que, tipicamente, utiliza suas próprias notações e diagramas.

A modelagem é um processo iterativo e incremental. Ela raramente "acaba" de forma definitiva, pois os requisitos e o escopo do sistema podem mudar ao longo do tempo, exigindo ajustes nos modelos.

Existem diversas ferramentas CASE (Computer-Aided Software Engineering) que automatizam a criação de DERs e a geração de scripts para criação de tabelas no banco de dados, facilitando o processo de modelagem.


7. Conclusão

A distinção entre MER e DER é essencial para entender o processo de modelagem de dados. Enquanto o MER define o conceito (entidades, atributos, relacionamentos, cardinalidades), o DER representa esse conceito de forma visual e adiciona detalhes técnicos. Ambos são complementares e desempenham papéis fundamentais no ciclo de vida do desenvolvimento de bancos de dados.

Teorey, Lightstone e Nadeau (2011) enfatizam que a modelagem de dados é um processo iterativo e incremental, que começa com a definição conceitual (MER) e evolui para a representação visual (DER) e, finalmente, para a implementação física.

8. Referências Bibliográficas

  • CHEN, Peter P. The Entity-Relationship Model: Toward a Unified View of Data. ACM Transactions on Database Systems, 1976.
  • DATE, C. J. An Introduction to Database Systems. 8th Edition. Addison-Wesley, 2003.
  • ELMASRI, Ramez; NAVATHE, Shamkant B. Fundamentals of Database Systems. 7th Edition. Pearson, 2016.
  • SILBERSCHATZ, Abraham; KORTH, Henry F.; SUDARSHAN, S. Database System Concepts. 6th Edition. McGraw-Hill, 2011.
  • TEOREY, Toby J.; LIGHTSTONE, Sam; NADEAU, Tom. Database Modeling and Design: Logical Design. 5th Edition. Morgan Kaufmann, 2011.

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